quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Eu não pulo desse barco

Algumas coisas devem ser ponderadas antes de sairem soltando os cachorros em cima de quem faz por merecer. Para vencer um campeonato de pontos corridos é preciso ter uma espinha dorsal cinco estrelas no time. Um elenco digno ou equivalente ao dos adversários diretos. Um técnico vitorioso, focado, experiente e de personalidade. Uma diretoria competente, comprometida e que, realmente, ame o clube que dirige. Uma torcida unida, que apóie na boa e na ruim. Todos precisam saber, desde o início, que vai ser difícil, mas que é possível ser Campeão. E o mais importante, juntos, até o fim.
A espinha dorsal do Palmeiras é ótima, uma das melhores do país, dos últimos anos no Palestra Itália. Marcos, Danilo, Pierre, Diego Souza e Vágner Love. Marcos é Marcos e qualquer comentário sobre ele seria chover no molhado. Danilo se encaixou como poucos no Palmeiras, tem uma personalidade absurda e parece ter adquirido uma palestrinidade de arquibancada. Pierre é a alma desse time, sem ele falta tudo, falta marcação, falta garra, falta alma. Diego Souza joga muita bola, sabe que joga, está desmotivado e sabe disso, sabe que está se escondendo e sabe para quem foi as declarações de Marcos no final do jogo. Vágner Love é o melhor atacante do elenco, não dá para comparar ou discutir sua qualidade em relação aos outros, não vejo falta de vontade, vejo ele esperando a bola chegar, ela não chega, tenta resolver sozinho, invarialmente, no meio de dois ou três zagueiros e o resultado nós sabemos qual é, aí a ira da torcida recai quase toda nele.
O elenco é longe de ser o dos sonhos, mas não fica muito atrás de qualquer um do G-4. Quando falta alguma peça da espinha dorsal cinco estrelas o time se desmonta, desmorona. Sai Marcos, entra Bruno, sempre na fogueira, é jovem, pouca bagagem, o peso de substituir Marcos pesa, é sempre uma falha por jogo e goleiro não pode falhar, mas tem futuro, é o sucessor. Perdemos Mauricio Ramos, o parceiro ideal de Danilo, que é ótimo mas não é um Waldemar Fiume, o entrosamento era visível e a dupla era quase perfeita, exceto Marcos, ninguém faz milagre, Danilo se entrosar com Mauricio Da Base nesse momento turbulento é quase impossível, e zaga sem entrosamento é um Deus nos acuda. Sem Pierre o time fica sem alma, Souza é muito bom, mas se perde com a falta do Monstro e tendo que cobrir as falhas grotescas de um irreconhecível Edmilson, além de por vezes ter que fazer o de Cleiton Xavier. Falando em Xavier, é o "banco" daquela espinha dorsal cinco estrelas, é o cérebro desse time, faz muita falta, o substituto imediato seria o irregular Saccony que não consegue sabe lá porque se firmar no time, sem o cérebro, Diego Souza se sobrecarrega (e/ou se esconde), a bola não sai com qualidade, fica um buraco entre volantes e meia, quando o desafogo não é com Figueroa e sempre chutão pra frente que bate na parede adversária e volta no contra-ataque pelo buraco do meio-campo. Não dá para depender de Obina (um iluminado, sem dúvida) e Ortigoza (dá gosto de ver a vontade que tem de jogar), Vágner Love (se quiser) põe os dois no bolso, mas sozinho e com Diego Souza do jeito que está fica muito difícil. Em tempo, a minha paciência com Marcão e Armero se esgostou. O futebol de Figueroa me enche os olhos a cada jogo.
O curriculo de Muricy diz por si. Não há do que reclamar do profissional, é comprometido com o que faz e com quem está. Ganhar quatro Brasileiros seguidos e estar tão perto e tão longe de conseguir o quinto não é para qualquer um. Está no futebol desde sempre, já conviveu com gentinha e hoje é do alto escalão ético do futebol brasileiro. É pupilo de Telê Santana, não dá para duvidar da sua competência. Tem personalidade... nas coletivas. A que sobra lá, falta na escalação do time, as opções podem não ser das melhores, mas é melhor que as ele vem optando. Um pouco mais de coragem não seria ruim, arriscar e surpreender a essa altura seria interessante. Em tempo, Jorginho não teria bagagem para segurar essa bomba de hoje, se fosse com ele certamente já teria caído e o título estaria ainda mais distante do título, e o Palmeiras estaria com um tapa-buraco esperando o ano acabar.
Existem culpados por essa situação, essa diretoria, que comanda hoje o Palmeiras. Se não fosse ela estaríamos disputando uma vaga na Sulamericana, ou o jogo contra o Botafogo na última rodada definiria um bi-rebaixado. Mostrou competência em manter os então intocavéis do elenco, dá exemplo de administração e transparência, trouxe o então 9 dos sonhos. Mostra comprometimento ao defender a Sociedade Esportiva Palmeiras de ataques de mal-amados da imprensinha e das prostitutas do apito. Tem amor ao falar de Palmeiras, seja onde for, seja sobre o que, seja para quem for. É diferenciada e isso faz a diferença.
A torcia que canta e vibra dá show de fé, de incentivo. Não está contente, mas está junto, até o fim. Abandonar nessa hora não é coisa de palmeirense, perder a esperança não condiz com nossa história. Estar junto só na boa é ter um pé do outro lado do muro.
Todos nós sabíamos que não seria fácil. Em certo momento pareceu menos complicado. Conseguimos complicar o que parecia óbvio. Agora é a hora de manter a fé, de resgatar a confiança, mostrar que esse time é feito de homens e que tem personalidade suficiente para vencer esses três jogos que faltam.
Pode cessar ou piorar essa tempestade, mas eu não pulo desse barco, eu vou até o fim.