Existem jogos que marcam a vida de uma pessoa. Existem momentos inesquecivéis na vida. Existem aqueles jogos e momentos que se fundem em um misto de alegria e dor, o que vou contar é um desses.
O dia 03/05/2006 foi inesquecível por inúmeros motivos. Era dia de jogo do Palmeiras, eliminatório na Libertadores, contra as Bailarinas, na Caixinha de Música, e nós precisando da vitória. Motivos de sobra para a ansiedade e a angústia perdurarem por todo o dia. Como se não bastasse tudo isso, quando estava saindo para ir ao bar ver o jogo ELE disse que me acompanharia. Nunca tinha feito isso, nunca foi ao bar ver o jogo comigo, momento de êxtase e bons presságios.
Fomos, eu e ELE rumo às cervejas, aos amigos (que ELE já fez naquele dia), ao Palmeiras e à vitória. Jogo tenso como não deveria ser diferente, surtos de euforia, raiva, alegria e desapontamentos. ELE sabia da história obscura do time inimigo, e assim o tratava. Nem nas duas eliminatórias contra os gambás o vi daquele jeito, o Homem (é que Homem!) queria a vitória a qualquer custo.
Quando se deu o primeiro gol inimigo, logo no início da partida, ELE ficou quieto, tomou um gole da sua cerveja e acendeu um cigarro, não esboçou reação. Passado o choque, voltou à tona o sangue italiano. Figas, palavrões, discussões comigo eram seus repertórios durante um jogo. Acabou o primeiro tempo, fomos tomar um ar e ELE me disse: "Vai dar! Vai dar! Vai dar!", foi a única coisa que falamos sobre o jogo durante o intervalo.
Segundo tempo, mesma mesa, outras cervejas, outros cigarros, inúmeras figas e palavrões, pouca discussão. Logo sai nosso gol de empate, o Homem me abraça que quase me enforca. Era o gol que ELE queria, o gol da Esperança. E me repetiu: "Vai dar! Vai dar! Vai dar!"
No fatídico lance em que senhor Wilson de Souza Mendonça, volante das meninas, rouba a bola e entrega ao colorido, ELE já se levantou prevendo o pior que viria a acontecer com o pênalti arranjado. Foi o estopim, chutou cadeira, derrubou cinzeiro, foi à frente da TV ofender o larápio e aguardou ali a cobrança do penal. Voltou à mesa de cabeça baixa e me disse: "Acabou!".
Mal sabia ELE que ali não tinha acabado a Libertadores para nós. Ali tinha acabado o nosso último jogo juntos. Não me acompanhou no bar no jogo do final de semana.
Cravada uma semana, ELE passou mal e saiu da sua casa pela última vez.
Hoje não assisto mais jogo em casa. Mudei de bar. Mas onde eu for assistir o Palmeiras ELE está comigo. E Palmeiras contra São Paulo, depois daquele 03/05/2006, se tornou ainda mais especial.
Sempre é a minha vingança por aquele dia.
O nome DELE? Osvaldo Gregório, meu pai.
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